Faro

Sara Matos
2 min readJul 17, 2024

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Após longa data longe dos rios e lagos, hoje salvei a vida de uma mulher idosa que quase morreu afogada em uma piscina natural nas montanhas. Uma pedra estava em seu caminho. Mais precisamente, em cima do seu pé esquerdo. Ainda, sem proteção física, equipada apenas mentalmente, sem alardes, mantive a brandeza de não me desesperar com o seu desespero, foi instinto. Eu já fui aquela mulher. Pela primeira vez, não era eu quem estava se afogando. Ao sair da água, ela ainda respirava, mas se encontrava desacordada. Logo, foi retomando pouco a pouco a consciência.

Distante da capital, a piscina natural que se formava era abastecida dos lagos verde da região. Não era a água salgada, era água doce, o que me alfineta a espinha em lembrar que a água potável do planeta está cada vez mais escassa. Está em fonte pequena nos livros de educação. Raramente citado em um podcast ou outro. Passa pela boca da repórter das 13h45 por 37s. É um assunto tratado como relâmpago, porém, urgente, e que não deveria caber somente como pauta dos indígenas e dos ativistas do meio ambiente. Parece que eles tem medo de lembrar que a água potável para o consumo humano está em menos de 3%.

Por anos não pratico e nem frequento as aulas de nado, se o corpo tem memória corporal, ao que tudo indica, ainda sei me virar debaixo d’água. Todo e qualquer indivíduo deveria aprender a nadar nos primeiros anos de idade, assim como aprendemos a falar. Durante os meus primeiros anos, por prescrição médica, frequentei as piscinas mais medianas da academia na tentativa de aumentar a resposta do meu sistema imunológico. Problemas respiratórios. Hoje já os superei pela rotina saudável que adotei e que se estende há quase três anos.

Antes era desafiador ter um corpo funcional de uma jovem adulta, como, por exemplo, correr 3km sem parar. Felizmente, hoje estou quase batendo o meu recorde pessoal de 10km. É tudo questão de prática. Mesmo sendo ruim em uma atividade, depois de trabalhar duro em cima disso todos os dias, você pode ter o risco de acabar sendo menos pior do que quando começou. Este é o meu lema e acredito que de muitas outras pessoas inquietas que tem fome e que buscam pela sua própria mudança. Nos dias que pensar não estar avançando, lembrar do primeiro dia. Comparações grupais são dispensáveis. As individuais são necessárias.

A terra está enferma e está habitada por uma multidão exponencial de corpos adoecidos e sobreviventes, o que ela precisa é de mais gente cuidadora. Seja cuidadora da terra, seja cuidadora de pessoas. Às vezes, para continuar, se alienar é ganhar fôlego para permanecer de pé no caminho. Não há bulas, a alienação faz parte da criatividade também. Assim como o ócio. O comportamento humano visto do painel do macro ao micro tem assustado. A anarquia em uma terra de colônia assusta e me pergunto até qual ponto e para quem, de fato, ela se faz necessária. Aquele espaço vazio da mesa que não serve de apoio, ele não serve para mais nada. Tem coisas que não precisa caçar pêlo em ovo. É o que é.

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Sara Matos

Coletânea de uma vendedora de dúvidas. Esboça aqui compilações de resíduos das imagens digitais e de filmes gambiarras.